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| "Cartuxo" Valdemir Ferreira, talento alagoano apaixonado pelo cordel |
O arapiraquense Valdemir Ferreira (61), ou "Cartuxo Cordelista Ferreira", desponta hoje como um dos melhores e talentosos escritores de cordeis contemporâneos do Brasil. As suas obras são inúmeras e chamam a atenção pela capacidade de produção de textos e criatividade de assuntos, Dos 82 livretos que lançou, nos vários anos que dedicou ao assunto, todos têm praticamente as características impulsivas do autor que aparece como novo valor do cordelismo. Ele já apresentou seus trabalhos em Minas Gerais, com apresentações para o público de Poços de Caldas, em 2014 e em São Paulo, recentemente, onde fechou contrato para impressão do livro, "A Bicharada", lançado hoje (3/08) pela editora AGBook. Ele diz que já escreveu seis mil versos com 1.200 estrofes cada e espera que a nova obra que chegou às bancas, com 110 páginas, venha consagrar o seu estilo.
Cartuxo Ferreira é um ex-funcionário do Banco do Brasil, em que trabalhou por vinte anos, tem quatro irmãos: Valdir, Valter, Vânia e Vanda, além de quatro filhos: Zenon, formado em Ciências da Computação, Volnei, funcionário da Caixa Econômica e administrador de empresas, Zayra, funcionária da Universidade Federal de Alagoas - UFAL, e Maria José, assistente social, servidora da prefeitura de Maceió.
Ele afirmou que optou pelo cordelismo porque se trata de uma das maiores literaturas do mundo, que nasceu em Portugal, chegou à Espanha e foi até a África. Explicou que não pensa em ganhar dinheiro com seus trabalhos mas apenas reconhecimento. "Eu não dou valor ao dinheiro, porque ao se ligar nele a gente esquece a família, trabalho e praticamente a vida".
Cartuxo afirma que se inspirou em seu pai, Emídio Augusto Ferreira, ex-trabalhador da rede ferroviária Camilo Collier, falecido aos 55 anos, que o orientou na escolha da arte de escrever. Por ter semelhanças com o líder hindu Mahatma Gandhi, o cordelista recebeu o apelido de "Gandhi do Nordeste", quando esteve em Minas Gerais.
"Eu mesmo procurei fazer um prefácio simples para que se tenha um entendimento melhor, tendo em vista o descaso que se tem com a nossa fauna e a flora do nosso país. Procurei pesquisar os mamíferos, aves, répteis, peixes, insetos e crustáceos que estão seriamente ameaçados de extinção. Assim, tive a preocupação de fazer este cordel", diz o autor na apresentação do primeiro livro, A Bicharada, lançado em 2015. Algumas estrofes da primeira e últimas páginas da obra de Cartuxo:
EU VI
Eu vi uma ratoeira
Um rato numa pingueira
Um rouxinol numa cachoeira
O bem te vi deitado numa esteira
E o cancão procurando uma peneira
Para o feijão peneirar.
Uma mutuca com a perna quebrada
Um piolho com a cara enfaixada
Uma pulga dormindo na estrada
O pulgão com medo da invernada
E a taturana falando
Isso pra mim não é nada
Um peixe porco numa churrascaria
Uma pescada grande numa vidraçaria
Uma pescada amarela estudando geografia
O pirá se formando em sociologia
E o peixe-robô falando
Vou terminar filosofia.
A BICHARADA
EU VI
Eu vi uma ratoeira
Um rato numa pingueira
Um rouxinol numa cachoeira
O bem te vi deitado numa esteira
E o cancão procurando uma peneira
Para o feijão peneirar.
Uma mutuca com a perna quebrada
Um piolho com a cara enfaixada
Uma pulga dormindo na estrada
O pulgão com medo da invernada
E a taturana falando
Isso pra mim não é nada
Um peixe porco numa churrascaria
Uma pescada grande numa vidraçaria
Uma pescada amarela estudando geografia
O pirá se formando em sociologia
E o peixe-robô falando
Vou terminar filosofia.
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| Alguns dos 82 livretos escritos pelo autor |
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