"GANHAR NO MOLE" É A META DOS INSCRITOS NO BOLSA FAMÍLIA

Beneficiados à espera de atendimento







Uma multidão de homens, mulheres e crianças na calçada, sentada ou na fila, de segunda a sexta-feira, das oito às 17 horas, para resolver problemas com o Bolsa Família que o governo federal envia para todo o Brasil, ano após ano. Nota-se bem que os jovens se mostram irritados, cansados de tanta espera na fila. As crianças sentam encostadas na parede, as mães pobres da zona rural e periferia da cidade, circulam de um lado para outro, esgotadas, famintas, aguardando a chamada para serem atendidas. Ao fim de uma das várias filas, uma mãe de 38 anos, Maria Edvânia Silva, moradora do bairro Baixa Grande, dá sinais de esperança de vir a ser convocada em pouco tempo para solucionar um corte acima de 100% no seu salário de R$ 164,00 do Bolsa Família. Ela contou que dos 164,00 que recebia, agora só ganha R$ 64,00. As demais pessoas que tomam conta da calçada querem agendar uma data para tentar receber o bônus do governo. Outras vão se cadastrar como novas sócias da bolsa e outras ainda, como dona Edvânia, vão procurar uma saída para obter de volta a parte do seus salário cortada.
Em meio aos dramas de todas as pessoas cadastradas no Bolsa Família, o observador sente logo o sofrimento que domina a vida das mães e pais de família que fazem das doações enviadas de Brasília o único apoio que conseguem para não deixar se abater pela miséria e as angústias da fome.
Sem a ajuda do poder público, com certeza, as pessoas cadastradas nos programas de ajuda financeira oficiais não conseguiriam resistir à miséria e aí então teríamos entre nós uma outra África morrendo hora a hora em ter a quem pedir clemência.
O trabalho do Bolsa em Arapiraca funciona em prédio alugado no bairro Capiatã, numa rua antes da escola Premem, próxima à via férrea. Enquanto o povo se acotovela, se espremendo nas filas, aguardando chamada, em pleno meio-dia, o almoço das crianças é a pipoca e algum caramelo vendido em um carrinho de confeitos estacionado nas proximidades. Os homens e mulheres se valem de poucas bolachas populares de R$ 2,00 para substituir o almoço, que não foi comprado porque o dinheiro de Brasília não chegou.
         
"NA MANHA"

Uma família com duas crianças recebe R$ 164,00 por mês, outras com três filhos conseguem em torno de R$ 180,00, mas há que receba até R$ 300,00, dependendo do número de filhos matriculados nas escolas.
Por mais que se consiga dos benefícios do Bolsa Família, ainda é insuficiente para que as pessoas possam ter boa alimentação, calçados, vestuário e dinheiro para remédios, contas de água, luz e outras pequenas despesas. Apesar de tudo, mães e pais de família da periferia e zona rural se recusam a trabalhar na agricultura ou em serviço domésticos.
A dona de casa Edvânia, que perdeu parte do salário, não demonstrava tristeza com o prejuízo que sofreu no dinheiro da bolsa:
--- Está satisfeita com o salário que a senhora ganha? Perguntei.
--- Estou, sim. Não tem outro jeito, responde.
--- Então a senhora é empregada da Dilma Rousseff, não é?
--- Não. Sou empregada do governo. Ela sai e eu fico. - disse a mulher
--- Fica aonde?, volto a perguntar.
--- Fico na minha casa, com o dinheiro da bolsa, que o governo me dá.
Um pai, que estava na outra fila, mascando um pedaço de pão seco, fazia parte do grupo de sofredores que estavam desde às seis horas da manhã esperando ser atendido para inscrever mais um filho no programa federal. José Petrúcio dos Santos, de 51 anos, disse que recebe perto de R$ 200,00 e quer aumentar o salário com mais um filho inscrito.
--- Por que você não vai trabalhar para aumentar a renda da família e produzir mais para o sustento de casa?
--- Já produzi muito. Trabalhei a vida toda na roça. Hoje ganho do governo e vou vivendo. Respondeu.
--- Você vive "na manha" sem trabalhar, ganhando fácil, sem fazer força. Você acha certo?
--- Eu ganho no mole porque tenho direito que o governo me dá. A gente paga imposto a vida inteira. Trabalha que nem bicho e no fim da vida o governo tem é mesmo que ajudar a gente. Argumenta.
--- E se o governo cortar o seu salário do Bolsa, como você vai viver?
--- Acho que ele não vai cortar não. Se cortar, vai ser difícil, mas Deus dá um jeito pra gente arranjar outro, justifica o ex-trabalhador rural.








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