PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE ARAPIRACA, GLÓRIA E ORGULHO DO POVO

Residência (1938) que pertenceu ao ex- prefeito Luís Pereira Lima, no comércio de Arapiraca

Antiga Matriz de N. Sra. do Bom Conselho, primeiro prédio da cidade

Capela de São Sebastião, erguida em 1904



Escola Adriano Jorge, patrimônio educacional do município

O patrimônio histórico de Arapiraca, embora constituído de poucas edificações e riquezas de origem natural não muito elevadas, é orgulho da história política, religiosa e cultural dos arapiraquenses. Apesar de algumas contradições verificadas nos registros das duas mais antigas igrejas, a matriz da padroeira do município, Nossa Senhora do Bom Conselho, na Praça Manoel André e a capela de São Sebastião, da Praça Deputado José Marques da Silva, ambas no centro da cidade, confirmam a certeza de que suas construções foram concluídas em datas bastante longas uma da outra. A velha matriz, hoje Igreja do Santíssimo Sacramento, teve a sua construção iniciada em 1864 e concluída cerca de dez anos depois segundo o livro História de Arapiraca, escrito e não publicado pelo juiz de direito, Nelson Rodrigues, descendente de Manoel André, na qual foi sepultada a esposa (de nome ignorado) do fundador do município, falecida em 1855, vítima de uma epidemia de cólera que varreu o nordeste brasileiro. A capela de São Sebastião foi construída em 1904, pelo agricultor José Magalhães, em sua propriedade, para pagar uma promessa feita ao santo a fim de se defender da varíola, doença que fez muitas vítimas no início do século XX. A construção residencial mais antiga é o sobrado que pertenceu à família de Luiz Pereira Lima, ex-prefeito, fazendeiro, comerciante e pai dos ex-deputados estaduais Claudenor de Albuquerque Lima, Cláudio de Albuquerque Lima (PSD) cassados pela revolução de 1964 e outros dois filhos. O edifício de primeiro andar fica na Praça Manoel André (Comércio), esquina com Rua Aníbal Lima. A conclusão do projeto datou  de 1938, ano gravado no alto da fachada do imóvel que foi palco da história política mais tumultuada da região entre 1950 a 1964, vendido à família Peixoto Gonçalves, de Penedo - AL, por preço não divulgado. Atualmente está alugado como ponto comercial. A moradia foi desocupada depois de 1955, pois nessa data Luiz Pereira adoeceu e foi para São Paulo, onde faleceu, enquanto sua esposa, Afra de Albuquerque Lima, foi encaminhada enferma e acabou morrendo em Maceió. O outro imóvel histórico da cidade é da Escola Estadual Adriano Jorge, na Av. Rio Branco. Projeto executado em 1940, no governo Osmam Loureiro, o estabelecimento funciona com 692 alunos do ensino médio e fundamental, com 7 salas de aula e 50 funcionários. Pela excelência do seu nível de escolaridade, a Adriano Jorge foi homenageada em 2010 com vários prêmios de gestão escolar, pesquisa e ciências pela Organização das Nações Unidas - ONU, Ministério da Educação e Cultura - MEC, Fundação Roberto Marinho e Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil. Apesar de não conter obras gigantescas e espetaculares, o patrimônio histórico de Arapiraca representa a glória e orgulho do seu povo em reconhecimentos pelo passado de lutas não muito distantes dos desbravadores do município, conforme palavras dos seus próprios habitantes.

                                         
SEM RETOQUE E SEM ÓDIO


No complemento da pesquisa do patrimônio histórico de Arapiraca, entrevistei a tabeliã titular do Cartório do 3º Ofício, Maria de Lourdes Melo (82), nos últimos dias, para conferir maiores detalhes da residência da família do ex-prefeito Luiz Pereira Lima, na Praça Manoel André. Ela me atendeu gentilmente, com muita atenção. Após interromper suas escritas por algum tempo, fui convidado a acompanhá-la à sua sala particular. Como pessoa amiga, ela pediu para não falar sobre as ocorrências políticas da época do seu ex-marido, deputado Claudenor Lima, falecido em 1988, aos 59 anos, pois não pode se emocionar devido a problemas de saúde (implantou três pontes de safena no coração). Em atendimento ao seu pedido, decidi reduzir a entrevista e alterar o questionário.
Solicitei que dona Maria me falasse um pouco respeito do sobrado que pertenceu à família do seu ex-sogro. Ele disse que o casarão tem seis quartos dois banheiros e um amplo salão na entrada do primeiro andar, com piso de taco (madeira). Acrescentou que o prédio é uma construção maravilhosa e foi negociado após a morte de Luiz Pereira e sua esposa, Afra de Albuquerque Lima.
Naquele imóvel a família do ex-prefeito criou três filhos homens e uma mulher: Claudenor, Cláudio, Claudisbel - Béu e Sílvia. 

A senhora frequentava a casa do sogro. Como era o seu relacionamento com a família Pereira Lima? Perguntei.

- O meu relacionamento com os cunhados, seu Luiz e dona Afra, era muito bom. Eu me dava bem com todos, afirmou a viúva do ex-deputado. Em relação à sua cunhada Sílvia, que era a mulher mais bela de Arapiraca entre os anos de 1950 a 1960, dona Maria disse que Sílvia de Albuquerque Lima se casou e foi muito feliz com o falecido juiz de direito de Batalha, Coaraci da Mata Fonseca, um homem de caráter, justo e foi prefeito de Arapiraca na década de 1950. Sílvia hoje mora em Maceió ao lado de um casal de filhos aos 80 anos, com a saúde abalada, confirma.

Como foi que a senhora resistiu no convívio com as pessoas, sendo esposa de um deputado nas décadas de 1950 e 1960 em Alagoas, numa época tão turbulenta?

- Não quero falar sobre política passada. Não posso me emocionar por causa da minha saúde. Sofrí muito, tendo que viver com a família diante daquela agitação, mas não tenho ódio a ninguém, não guardo rancor, sou amiga de todas as pessoas, de todos os níveis sociais, disse ela.

A senhorta amava o Claudenor? Perguntei.

- Amava e muito. Tenho saudade dele, mas por não concordar com a política da época, preferi fazer um acordo (1963) com ele e me divorciei. De início ele não gostou da ideia, mas acabou concordando porque não exigi nada e achei melhor me distanciar daquela vida, guardando para mim o amor e carinho que dediquei a ele e à família.

Por que? Insisti.

Ela explicou que o ex-deputado era um homem bom, que tinha inúmeros amigos e carisma de um líder poltico forte, vigoroso, que gostava do diálogo. A nossa casa, na rua (Fernandes Lima) da agência do Banco do Brasil, estava de portas abertas dia e noite. Qualquer pessoa entrava lá, se alimentava e era bem tratada, fosse preto, branco, bonito, feio, rico ou pobre. O Claudenor era um homem muito bom mesmo. Nunca deixei de o amar, salientou. Claudenor Lima foi parlamentar por quatro legislaturas entre os anos de 1950 a 1964 e advogado criminalista, profissão que exerceu até o fim da vida, em 1988. Cláudio Lima não chegou a terminar o primeiro mandato parlamentar, foi também pecuartista, viveu até a década de 1980, deixou como filho mais conhecido o desembargador, Tutmés Airam, atualmente membro do Tribunal de Justiça de Alagoas e dona Creuza Melo, viúva. Maria de Lourdes Melo é uma senhora simples, atenciosa, educada, que vive exclusivamente para o trabalho e a família. Na sua juventude estudou na Escola São José, em Maceió, em regime de internato e tem, como se diz popularmente, uma "vida sem retoque, sem ódio, e sem rancor".
Por fim, arrisquei fazer uma pergunta que ela nunca gosta de ouvir e ainda mais sabendo que não concede entrevista a qualquer pessoa. Pedi que falasse para os nossos leitores do blog, se desejasse, algo a respeito do atentado que vitimou o ex-deputado Marques da Silva, em 1957, em que seu ex-marido foi mencionado entre os supostos acusados.
- Ainda hoje, 59 anos depois, prefiro não falar sobre o caso. Posso dizer que Claudenor era um ótimo pai de família, bondoso, que fazia o bem às pessoas, um líder por vocação.

Quem teria sido o verdadeiro acusado?

- Não faço a menor ideia. Jamais tive qualquer suspeita de alguém, completou.
O ex-deputado Claudnor Lima foi absolvido por unanimidade, pelo tribunal do júri desta cidade, no processo de Marques da Silva. Os irmãos Caxeado e Lauro Ferro, acusados como autores do delito, foram condenados a 30 anos de reclusão na década  de 1970.
Do casamento de dona Maria de Lourdes com Claudenor Lima nasceram os filhos: Cléia de Melo, Carlos de Albuquerque Melo (advogados falecidos), Claudete, Claudênia (em memória) e Cláudia Maria de Melo Lima, tabeliã substituta do cartório do 3º Ofício.
Este Blog agradece à dona Maria de Lourdes Melo pela entrevista.


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