O RETRATO DE DORIAN GREY, OUTRA JÓIA QUE RENASCEU COM A POLÊMICA DO DECADENTISMO

Se Oscar Wilde, um dos grandes escritores irlandeses do século XIX, é considerado o pai do decadentismo com O Retrato de Dorian Grey, que publicou em 1890 e relançou em edição ampliada um ano depois, imaginem a polêmica do romance na época com a história de um atraente jovem da Inglaterra aristocrática do século XIX que serviu de modelo, na ficção, para os quadros de Basil Hallward, que se tornou, além de amigo íntimo, admirador e apaixonado por Dorian Grey, também pianista que tocava para ele (o pintor) nos instante de tédio.Ao receber o seu amigo,Lorde Henry, em casa, Basil Hallward falou sobre Doriam Grey: "Todos os dias. Não me sentiria feliz se não o visse todos os dias. É-me absolutamente necessário.Agora, ele é para mim toda a minha arte. Disse o pintor gravemente:" Às vezes penso, Harry, que só houve duas datas importantes na história do mundo: a primeira,o aparecimento de uma nova técnica para pintar; a segunda, o nascimento de uma concepção da arte. Não há nada que a arte não consiga exprimir e eu sei que a minha obra é excelente desde que encontrei Dorian Grey. Jamais trabalhei tão bem em toda a vida! Ele não percebe que me permitiu definir os traços de uma nova escola, a escola que possuiria a paixão do romantismo e a perfeição do espírito grego. Seria a harmonia do corpo e da alma. Se você pudesse ver o que Doiam Grey é para mim.  Lembra-se daquela paisagem pela qual Agnew me ofereceu tão alto preço e que recusei vender? É uma das melhores coisas que já fiz, porque Dorian Grey esteve sentado a meu lado enquanto eu pintava", disse o pintor ao amigo quando se  referia ao fato de ter se negado a vender um quadro por alta soma de dinheiro porque se inspirou no seu modelo.No diálogo, o pintor reforça o sentido de sua intimidade com o jovem:"Dorian Grey é essencialmente para mim um motivo de inspiração artística. Ele inspira-me um novo estilo. Encontro-o em algumas curvas, na beleza e  delicadeza de certos tons. É tudo". O amigo pergunta-lhe: "Por que não quer expor o seu retrato"? O pintor explica que não quer expor porque "O público poderá adivinhá-lo, e recuso-me a desnudar a  minha alma ante os seus olhos ávidos e cruéis! Jamais terão o meu coração sob os seus microscópios. Os poetas não possuem tantos escrúpulos como você. É por isso que eu os odeio! - exclamou Hallward. E é por isso que o grande público jamais verá o meu retrato de Dorian Grey".
BELEZA DE CORPO INTEIRO - O intenso perfume das rosas enchia o atelier e, por instantes, quando a brisa do verão agitava ligeiramente as árvores do jardim, entrava pela porta aberta um pesado bafo de lilás, ou o odor mais sutil do espinheiro-alvar em flor. Do extremo do divã com almofada de couro persa, sobre as quais se recostara - fumando um cigarro após outro,- Lorde Henry Wotton contemplava o esplendor de um codosso  cujos cachos possuíam a cor e o perfume do mel. O  murmúrio monótono das abelhas, que abriam caminho por entre as altas ervas não cortadas, tornava o silêncio ainda mais pesado. No meio da sala, sobre um grande cavalete, erguia-se o retrato, de corpo inteiro, de um jovem de extraordinária beleza. À sua frente, um pouco mais afastado, sentava-se o próprio artista, Basil Hallward. O pintor contemplava a bela imagem com um sorriso de satisfação que parecia não  querer desaparecer.Como o Lorde que o visitava disse que o quadro precisava ser exposto  no Grosvenor (academia),o artista disse: "Creio que não o enviarei a parte alguma". Lorde Henry, olhou-o espantado e perguntou:"Mas por que, meu caro?" Ao que o pintor  respondeu: "Não posso expor.:Pus nele demasiado de mim  próprio. Todo retrato pintado com paixão é, na realidade, o do artista e não o do modelo.O modelo é simplesmente o acidente. Não é a personalidade do modelo que o pintor revela, mas antes a sua. Não quero expor esta tela, porque temo ter desvendado nela o segredo da minha alma".
TODA ARTE É INÚTIL -  Oscar Wilde mostra o poder de sua critica na arte e desnuda a alma ao falar da sensibilidade e do valor do artista, do pensamento  da linguagem, expondo detalhes polêmicos do julgamento da própria arte: "O artista é criador de beleza. Revelar a arte e esconder o artista, tal é a finalidade da arte. O crítico é aquele que traduz de uma nova maneira a sua impressão da beleza. De certo modo, a forma mais elevada da crítica, e também a sua forma mais baixa, é a aubiografia. Aqueles que veem nas coisas belas feio significados estão corrompidos e, ao mesmo tempo, isentos de atrativos. É um defeito.Aqueles que veem  nas coisas belas belos significados são homens cultos. A esperança  reside neles.São os eleitos para quem as coisas belas significam apenas Beleza. Não existem livros morais nem livros imorais. Um livro ou é bem ou mal escrito.É tudo.
Um artista nunca é mórbido. O artista tudo pode exprimir. Para o artista, o pensamento e a linguagem  são os instrumentos da sua arte. O artista não deve ter qualquer preconceito moral. No artista, todo preconceito moral é um imperdoável maneirismo de estilo. Para o artista, o vício  e a virtude são os materiais para a sua arte. Do ponto de vista  forma, a arte tipo é a do músico. Do ponto de vista do sentimento, é a do ator. Toda a arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo. A diversidade das opiniões acerca de uma obra de arte prova que a obra é original, completa e viva. Quando as críticas estão em desacordo, é porque o artista está de acordo consigo mesmo. Toda a arte é  essencialmente inútil". Em O Retrato de Dorian Grey, o autor, em sua ficção, valorizou menos o artista que a própria arte, já que o modelo, Doriam, assassina o pintor a golpes de faca e destrói a tela que o seu autor se negou a expô-la para o público em uma academia de artes.


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