MEU PRIMEIRO VOTO DEI A UM LADRÃO POR ENGANO



Foi um erro gravíssimo no qual ainda hoje me recuso a pensar. Tenho certeza que o arrependimento justifica o meu perdão. O meu primeiro voto, dado sem refletir a um homem que eu julgava ser uma autoridade idônea, merecedora da credibilidade popular, para mim foi um ato de profundo pesar, sobretudo porque como adolescente acreditei que iria ajudar a eleger um cidadão que deveria ser o orgulho, dos que, como eu, sonhavam em ver na Câmara Federal um digno merecedor do nosso voto juntamente com os demais membros da bancada do PSD (Partido Social Democrático), eleitos na ocasião.
Dia da eleição, 8hs30min. Eu estava na esquina da Rua Voluntários da Pátria com Ataliba Leonel, bairro Sant’Ana, zona norte da
da capital paulista, todo orgulhoso para depositar na urna o meu primeiro voto, estreando como eleitor, aos 18 anos de idade, sem ter a mínima noção em quem deveria votar. Entre os milhares de panfletos pregados nas paredes e postes da cidade, como ocorria na época da ignorância política e do coronelismo, um candidato me chamou a atenção. Por sua fisionomia, seu rostão gordo, efeiçoado (acho que pesava mais de cem quilos), o candidato era alto, perfil de conquistador, atrativo. Lembro-me como se fosse agora: sua aparência se assemelhava ao famoso diretor de cinema, Alfred Hitchcock (1899, Ingl.-1980). Admiti votar nele.
Outro nome, para deputado estadual, tinha me chamado a atenção, o Pimentel. Mas não me liguei nele. O gordo, para federal, era
o que estava na onda. Seu nome italiano, Carmelo D'agostinho, estava com a bola cheia, na preferência do eleitorado, também por
sua idade, entre 35 a 45 anos.

Então estava eu na esquina da Voluntários com a Ataliba Leonel à espera de transporte para votar no bairro Carandiru. Já perto

das nove da manhã, me aparece um carro Ford, dos antigos, preto, com a legenda em letras amarelas: "Dep. Estadual, Pimentel".

O motorista parou,  me ofereceu uma carona e seguimos.  Na seção de uma escola do Carandiru, onde havia uma fila pequena, com cerca de vinte pessoas, chegou a  minha vez. Votei para estadual no Pimentel, que nunca soube quem era e no federal,
foi mesmo o Carmelo D'agostinho, o gordão, que venceu. O Pimentel foi derrotado.
No dia seguinte, já indo para o trabalho, passadas as emoções da eleição, comprei um exemplar do jornal Diário de São Paulo
para saber as "últimas  noticias". Para a minha desagradável surpresa, a manchete principal era: "Só o Mandato de Deputado Federal Livra Carmelo D'agostinho da Cadeia". Confesso que fiquei transtornado com o desfecho  da matéria. O candidato no qual votei era diretor executivo do extinto Banco Auxiliar do Estado de São Paulo, tinha levado o  banco à falência com um golpe de muitos milhões de cruzeiros (moeda da época) e foi eleito com cerca de um milhão e setecentos  mil votos.
Na qualidade de eleitor estreante, jovem estudante e trabalhador, foi uma experiência negativa para mim e gostaria de dizer para
todos os que exercem o direito do voto para não fazerem o que eu fiz, votando em um desconhecido, para não terem de contribuir, ingenuamente, com a desgraça da corrupção eleitoral, atualmente o câncer da política brasileira.
Dessa eu não esqueço, sinceramente.

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