DESTRUÍDO PELA SECA, SEMIÁRIDO ALAGOANO PEDE SOCORRO

Açude do povoado Pau Ferro: seco depois de 42 anos de inaugurado


Pasto exterminado pela estiagem


Nem o coqueiro resistiu

Com suas lavouras destruídas, açudes secos, animais mortos de fome e sede, população em situação lastimável, diante da violenta seca que assola a região, o agreste de Alagoas pede socorro aos dirigentes municpais, estaduais e federais para evitar o colapso total da sua combalida economia. A população vive em estado desesperador, ante as consequências da falta de água e poucos recursos para sobreviver. Os agricultores, em sua maioria pequenos sitiantes donos de pequenas propriedades de um a trinta hectares de terra, se mantém com ajuda da Bolsa Família, do governo federal, empregos no município e bicos na cidade.
No povoado Pau Ferro, município de Craibas, a 150 quilômetros de Maceió e 13 quilômetros de Arapiraca, e áreas cirunvizinhas,  não chove há mais de um ano. "A última chuva registrada na área em 2012, não foi suficiente para molhar mais de 20 centímetros de profundidade da terra. Só choveu três vezes, mesmo assim em quantidade que não ultrapassou 30 milímetros no índice pluviométrico", contam as pessoas.

Açude seco pela estiagem após o bairro Canaã

Laranjeiras e goiabeiras castigadas pelo sol


Em Pau Ferro e outras localidades no semiárido do agreste alagoano, os rigores do clima assustam os moradores dos sítios. Em pleno meio dia, a temperatura chega aos 40 graus, com sensação de 45 graus. Se uma pessoa ficar exposta ao sol às 12 horas, com uma hora estará totalmente molhada de suor, suando por todos os poros, como se tivesse tomado banho. O corpo será fisgado pelo calor, como se fosse furado por  agulha, além do fato de sofrer ameaça de câncer de pele e ter a visão atingida por catarata, se não tiver protetor solar. É o perigo e a violência do clima no desesperado semiárido.
O agricultor e pequeno criador de gado, Jose Rosendo (79 anos), proprietário de 70 tarefas de terra, vive com a família de 10 pesoas em Pau Ferro e conta que em toda a sua vida jamais enfrentou uma seca tão rigorosa como a atual. "Em outras ocasiões, como em 1970, por exemplo, a seca foi severa, mas os açudes estavam cheios, os animais gordos e não havia tanto desespero como agora", afirmou.
                            
             SECA FOMENTA A POBREZA

A crise climática atual que castiga o semiárido nordestino é a pior dos últimos 60 anos, de acordo com técnicos do governo federal. Pela violência da sua força, com os altos índices da temperatura, ausência de chuvas e o prolongado período de estiagem, os açudes secaram, a vegetação foi queimada pela raiz, eliminando o último alimento natural dos rebanhos. Dessa forma os criadores perdem as suas economias, com o fim dos rebanhos, das lavouras de subsistência, como milho, feijão, mandioca, soja, fava, fruteiras e outros produtos agrícolas como algodão e fibras, como também deixam de ganhar na produção de leite de gado e  queijos. O fumo, que nos últimos anos tinha caído de produção, ainda assim rendia algum dinheiro para os que insistiam em seu cultivo. Com a seca, essa lavoura desaparece totalmente do plano dos lavradores.
No município de Craíbas e região afetada pela seca, o verde mais comum que se vê é a folha de jurema, árvore produtora de estacas que resistem às altas temperaturas, isto nas propriedes de criação de gado, porque nos sítios algumas fruteiras conseguem sobreviver, embora com uma queda de produção em cerca de 50% na colheita de manga, caju, graviola, jaca, acerola. Até os coqueiros estão morrendo com a seca e os que 
ficam não conseguem aumentar a safra de frutos. Os pomares de laranjas e goiabas foram dizimados pelas altas temperaturas.
O desaparecimento dos açudes é o fim dos criatórios de peixe tilápia (cará) que vinham sendo desenvolvidos em alta escala nos reservatórios da zona rural, o que proporcionava um bom equilíbrio no orçamento financeiros dos criadores. No resumodos fatos, isto significa que os desastres naturais do momento devem modificar a geografia econômica e social do semiárido com o aumento da pobreza e as dificuldades que devem ser encontradas para a manutenção do sistema produtivo da cadeia agropecuária e hortifrutigranjeira.

Do antigo açude do Canaã só restou a vegetação rasteira

        
            GEOGRAFIA DA FOME

O povoado Pau Ferro é habitado por certa de 130 famílias e dista 10 quilômetros do centro de Craíbas. Antes de Pau Ferro, cerca de três quilômetros,há o sítio Corredor, com igual quanidade de moradores. A
rede de abastecimento de água da Companhia de Abastecimento e Saneamento de Alagoas - CASAL, passa por esses redutos habitacionais, mas só leva água para a populaçãode vinte e vinte dias, ainda que em quantidade precária. Antes de chegar em Pau Ferro, a água abastece inúmeras caixas do sítio Corredor, deixando o sítio Pau Ferro sem abastecimento. O proprietário José Rosendo compra 180 litros de água a cada vinte dias para uso animal e serviços de casa. O caminhão pipa cobra R$ 200,00 pelo transporte da água. Para conseguir água potável para o consumo da família, um filho do proprietário consegue água da Casal (tratada) a cerca de 3 quilômetros de distância, cujo transporte é feito em caminhonete.

José Rosendo e seu filho Cícero Farias (Tuta)
O único açude que abastecia a região pertencia à propriedade de José Rosendo, no sítio Pau Ferro e, construído há 42 anos, jamais secou. Agora não suportou a alta temperatura de 40 graus do sol e evaporou totalmente. O açude tinha oito metros de profundidade e ocupava uma área superior a 300 metros, com seu
volume de água. Cerca de 50 milhões de litros era o total calculado de água do reservatório.
Dez qulômetros adiante, ainda em Craíbas, outro gigante que jamais tinha secado e de inverno a verão mantinha o abastecimento da população de dava de beber aos animais, também secou. Esse açude enorme, segundo moradores da região, pertencia a uma propriedade do ex-prefeito de Arapiraca, João Lúcio da Silva e hoje é do empresário Adelmo Pereira, conhecido por Adelmo de Junqueiro.
O bairro Canaã, três qulômetros do centro de Arapiraca, possuia um açude que fazia parte de sua história e  há mais de cem anos nunca tinha deixado de ter água para abastecer os animais da região. Com a estiagem de 2012/2013, o velho açude desapareceu. Dele evaporaram mais de quinhentos mil litros de água. Essa é a geografia da fome que marca hoje o semiárido alagoano, incrementando a pobreza entre a sofrida população regional.




                                       

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