Nesta quinta-feira, milhões de trabalhadores brasileiros prometem cruzar os braços
e paralisar serviços fundamentais para o andamento do País, como
bancos, indústria, obras, transporte público e construção civil. Chamado
pelos sindicatos de greve geral, o movimento - que pegou carona na onda de protestos que sacudiu o País em junho -
é o quarto desse tipo em 190 anos, desde a Independência (7 de setembro
de 1822). Em 2013, a novidade é a unificação dos sindicatos e
movimentos sociais em uma pauta que cobra o avanço do Brasil.
"As manifestações que antecederam a convocação dessa
greve se mostraram novas para os próprios partidos e centrais sindicais.
Essa sociabilidade é algo inédito no Brasil. Uma pauta de certa forma
única e com um objetivo claro: fazer o País avançar com uma inversão de
prioridades", afirmou o sociólogo Adão Clóvis Martins dos Santos, do
Departamento de Ciênciais Sociais da PUCRS.
Em 1917, a crise no comércio exterior, causada pela
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), aumentava preços, diminuía salários
e provocava escassez de alimentos no Brasil. Para atenuar os efeitos,
os patrões esticavam as jornadas de trabalho e revoltavam os
trabalhadores, que organizaram uma grande passeata em 9 de julho, em São
Paulo. Na marcha, o sapateiro Antonio Martinez foi morto pela polícia, e
o assassinato tornou-se o estopim para a primeira greve geral do
Brasil.
A imprensa da época tratava os manifestantes como
anarquistas e os patrões como caso de polícia, e os passageiros dos
bondes e todas as pessoas que circulavam pelas ruas eram revistados.
Nas fazendas de café do interior paulista, muitos
imigrantes italianos abandonaram o trabalho escravo e foram para as
cidades, levando seus anseios de lutar por direitos trabalhistas. A
ebulição política e social levou à organização do movimento operário no
País e, mais tarde, à chegada de Getúlio Vargas ao poder.
Setenta e dois
anos e duas ditaduras depois - Estado Novo (1937-1945) e militar
(1964-1985) -, os sindicalistas, organizado pela Central Única dos
Trabalhadores (CUT), fizeram outra greve geral, desta vez contra o
desemprego, as perdas salariais e o aumento sucessivo dos preços dos
produtos de primeira necessidade durante o governo de José Sarney
(1985-1990).
O Plano Verão, lançado em janeiro de 1989, revoltou a
população brasileira e impulsionou a segunda greve geral da história do
País. A lei modificava o índice de rendimento da caderneta de poupança,
gerando perdas de até 20%, congelava preços e salários e criava uma nova
moeda, o Cruzado Novo.
Sentindo-se lesados, os trabalhadores procuraram o
governo e os empresários para conversar em março, mas nenhum acordo
avançou. A CUT tomou a frente e organizou, então, a paralisação nacional
das atividades em 14 e 15 de março. Mais de 70% da população
economicamente ativa apoiou a greve, o que fortaleceu o PT, partido que
mais representava a luta trabalhista.
"Eram demandas de debilidade do processo econômico:
desemprego, baixos salários, ausência de políticas sociais. Era uma
greve muito mais defensiva: não perder o que temos, lutar pelo emprego.
Hoje, se reconhece que existe consenso de que é preciso avançar",
explicou Adão Clóvis Martins dos Santos.
Em 1991, no governo de Fernando Collor de Mello, a CUT,
Confederação Geral dos Trabalhadores e Central Geral dos Trabalhadores
convocaram nova greve geral, com adesão de 20 milhões de pessoas,
que pediam reposição das perdas salariais, garantia de emprego, defesa
dos serviços públicos, reforma agrária, fim do aumento abusivo nos
preços dos aluguéis e prestações da casa própria.
Em meados do mesmo ano, denúncias de irregularidades
começaram a surgir na imprensa envolvendo pessoas do círculo próximo de
Fernando Collor, como ministros, amigos do presidente e mesmo a
primeira-dama, Rosane Collor, que culminaram no impeachment do então
presidente em setembro de 1992.
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