O
menino faminto, descalço, usando calção surrado, sem camisa, escravizado
pela pobreza em seus sete anos, sentado no chão quente, fala em voz
baixa: "inferno, inferno, inferno!" Nordestino do semiárido, logo cedo
adaptou-se à vida miserável da seca. Atento aos passos daquela que o trouxe ao mundo, pergunta:
- Mãe, o que é o inferno?
A mãe, mexendo farinha de mandioca com água, numa panela de barro no pequeno forno de lenha que enche a casa de fumaça, responde:
- É um lugar quente, feio, com muitas fogueiras, de dolorosa agonia.
Menino:
- Onde fica. Já viu?
A mãe, mexendo farinha de mandioca com água, numa panela de barro no pequeno forno de lenha que enche a casa de fumaça, responde:
- É um lugar quente, feio, com muitas fogueiras, de dolorosa agonia.
Menino:
- Onde fica. Já viu?
Mãe,
chorando, irritada, movida pelo sofrimento da eterna miserabilidade da
seca, quase morrendo de raiva do marido Zé, que gastou o salário do mês
jogando baralho e bebendo cachaça, com uma corda na mão se lança contra o menino e solta golpes no rosto da criança, joga-lhe a corda
com toda força, nas costas, cabeça, no tórax e em todo o corpo do filho.
Depois, ataca-o com violência, no chute, pontapés e socos na cara. Por fim diz:
- Toma cabra safado pra você deixar de atazanar a minha vida... Pra "qui" peste você "qué" "sabê" de inferno!!!
E o menino Joquinha cai em soluços, chorando pra se acabar, encostado na parede de barro do casebre, sem parar de resmungar:
- A peste do inferno, inferno, inferno!!!
E assim é hoje a vida do miserável morador da caatinga do semiárido nordestino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário