Seria
o desconhecido tão chocante, que pudesse arrastar a todos para o abismo
do forno abrasador. Seria possível vivenciar aquele instante de forma
passiva, encarar o inusitado, o sobrenatural, sem o mínimo pavor,
tocando o óbvio com um SIM tão profundo, tão inexplicável, sem um pingo de temor que pudesse alcançar os menores do seu eu? Mas no fim, todos tremeram.
Pois
foi assim que tudo aconteceu como me contou Januário de Souza, nos seus
65 anos bem vividos, ao lado da família e dos amigos. Nos meus 20 anos,
já correndo atrás de emoções, residindo na rua Boa Vista, centro de
Arapiraca, defronte ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, comecei a me
relacionar com muitos futuros amigos no salão de barbeiro do Davi, na rua
Domingos Correia, entre a Boa Vista e Praça da Prefeitura. Nos
encontros diários, não nos faltavam assuntos, alguns ricos em fatos
reais, outros baseados apenas no
disse-me-disse.
Januário me chamou atenção por sua seriedade e sua conduta como
pai de família, aposentado, que não tinha nenhuma necessidade de
alardear fatos. Até porque não podia, nem tencionava levar ao público
ocorrências de sua vida que só interessavam a ele próprio. A verdade é
que ele me afirmou, com toda certeza, sem o mínimo toque de dúvida, em
presença de várias pessoas, algo que jamais eu tinha visto nem ouvido
falar, em toda a minha vida.
Tratava-se de um cidadão íntegro, homem simples, pai de duas
filhas (Francisca e Magnólia), casadas com pessoas respeitadas, ligadas
ao comércio da cidade, meus amigos (Ednaldo Correia Lima - em memória, e
José Matias). Após sua narração, tive que agradecer ao autor da
história, que me valeu uma manchete de primeira página no extinto diário
CORREIO DE MACEIÓ, que funcionava na Rua Cincinato Pinto. Seu
editor-chefe era o jornalista e advogado Dêvis de Mello, ex-secretário
de Educação no governo Divaldo Suruagy.
Conforme a narrativa de Januário, ele e três amigos viajavam para Garanhuns (PE) para resolver problemas comerciais, em um veículo de oito
lugares que se assemelhava às Vans atuais. Depois de algumas horas de
viagem, já em território pernambucano, à margem da estrada à sombra de uma árvore frondosa, havia uma mulher elegante, bem maquiada e bem
vestida, que pediu ao motorista uma carona para Garanhuns. O condutor se
propôs a lhe atender . A mulher pediu a um dos passageiros que
pegasse a mala para ela. O homem desceu do carro e tentou arrastar a
mala, mas não conseguiu. O objeto era pesado demais. Por mais que ele se
esforçasse não havia como deslocar a mala. Todos os outros amigos de
viagem fizeram a mesma coisa. O objeto tinha um peso incalculável. "Era
como se pesasse toneladas", disse um dos viajantes. A mulher, dentro do carro, viu que ninguém conseguia carregar a
mala. Então desceu e na maior calma, como se não tivesse nenhum peso na
mão, colocou a bagagem no porta-malas.
Alguns quilômetros
adiante, havia um boteco à margem da estrada. Aí os passageiros
aproveitaram para tomar refrigerantes. Na hora de pagar, a mulher assumiu a despesa e não aceitou troco. Outro detalhe chamou
a atenção dos viajantes: na hora e abrir a garrafa, a desconhecida
arrancou a tampa com a unha. "A tampinha disparou da garrafa com tanta
velocidade que produziu um zumbido", confirmou Januário. "Os passageiros estavam amedrontados. Só faltavam se borrar nas calças", contavam. Depois do guaraná o medo aumentou em todos. Ao término da viagem, em Garanhuns, a mulher desceu rapidamente e em instantes sumiu. Os viajantes falaram que quando a desconhecida desapareceu todos experimentaram um grande alívio.
De
regresso a Alagoas, o motorista parou novamente no boteco da estrada,
onde tinham estado na ida e foram informados pelo dono do
estabelecimento que o dinheiro usado pela passageira para pagar a despesa era um pedaço de papel. "De dinheiro não tinha nada",
falou o comerciante. Os homens que participaram dessa aventura, de
acordo com Januário, afirmaram, com certeza, que a mulher desconhecida era
"uma coisa do outro mundo", sobrenatural, pois nunca na vida passaram
por momentos tão aterradores como aqueles.
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