Nagasaki ontem e hoje. |
COMEÇA O INFERNO
Após uma noite com a família,passada longa ausência tive a felicidade de abraçar, beijar e acariciar meus pais e dois irmãos. Senti-,me no paraíso. Às 8 horas da manhã, vi-me na tentação de dar uma olhada na rua, respirar o ar da minha saudosa Nagasaki, que tanto amei. Naquele momento comecei a pisar em inúmeros panfletos lançados por,aviões americanos ao amanhecer, advertindo a população para um bobardeio que seria lançado sobre a cidade. Não me preocupei, achando que era propaganda americana. Continuei andando, respirando o delicioso ar japonês, olhando as colinas que circundam parte da desenvolvida região norte, com suas massas de trabalhadores em ação nas quatro grandes indústrias de Nagasaki, liderada pela fábrica de aço da Mitsubishi.
Lá por volta das 11 horas, esqueci que estava na rua, juntamente com grande parte dos 250 mil habitantes locais. De repente soou o alerta de bombardeio com a sirene tocando em alto volume, com aquele já conhecido apito tenebroso que registra a chegada de aviões carregados de bombas para despejar sobre nossas cabeças. Confesso que não pensei mais nada daí por diante. Não houve tempo! Vi apenas o céu escurecendo, invadido pelas chamas e um barulho nunca visto de explosão.
Acordei dez horas depois embaixo de uma rocha de duzentos quilos que ao rolar parou sobre um terreno em cuja base havia um espaço com cerca de um metro de altura onde fiquei preso embaixo da rocha. Não pude me mexer, nem falar. Depois de quase 24 horas consegui ser resgatado por tropas de socorro enviadas pelo governo para salvar os sobreviventes. Eu sentí um calor inexplicável, como se uma nuvem de insetos estivesse me consumindo. Aquilo me atormentava, cansando-me mal estar quase mortal, que me picava o corpo por toda parte. "Foi terrível!" (Os pais e irmãos dele morreram - Nota do Redator).
Os paramédicos me disseram que uma bomba atômica tinha sido lançada pelos aviões dos Estados Unidos e me mandaram ficar quieto, pois estavam tentando salvar a minha vida.
A bomba de 6,4 kg de plutônio lançada na cidade às 11 horas da manhã do dia 9 de agosto de 1945, explodiu 603 metros acima de um campo de tênis perto da fábrica da Mitsubishi, no norte do país. A explosão gerou um calor estimado em 3.900 graus. A cidade ficou parcialmente destruída pelos incêndios da explosão e gerou um vento de mil quilômetros por hora. 60 mil pessoas morreram imediatamente e outras vinte mil com o decorrer do tempo. "Ainda hoje vivo o pavor da explosão e constantemente continuo sendo examinado como medida de prevenção. Para mim o inferno continua"! Exclamou.
HIROSHI MIGAMI (sobrevivente)
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