O CONTO DO VIGÁRIO

Era uma noite fria, chuvosa. A cidade pequena, de uma rua principal no centro, com a igrejinha no meio, entre duas filas de casas populares, estava deserta. A chuva fina, com o vento quase gelado, era desgastante naquela noite. De repente alguém bate à porta da casa próxima à igreja: "Ô de casa, ô de casa, pá, pá, pá, pá. Quero falar com o padre, ô de casa!" Após algum tempo, uma mulher abre a porta. O desconhecido, montado num cavalo, chapéu na cabeça, vestindo camisa escura já molhada da garoa, respondeu pra mulher: "Quero falar com o padre!" - Ele não está em casa agora. O senhor vai encontrá-lo naquela casa azul, no outro lado, de frente. Ele está conversando lá com os amigos, jogando baralho. Toda noite, a essa hora, é o lugar de encontrá-lo, reforçou a irmã do religioso ao justificar a ausência. O visitante agradeceu e se dirigiu à casa do outro lado da rua. Ao chegar, desceu do cavalo e bateu palmas pedindo para falar com o pároco.Aproximou-se, saudou os presentes e se dirigiu ao vigário, justificando a visita: "Eu vim comprar o seu gado. Quero fazer uma boa proposta. Vamos negociar?". O padre idoso, nos seus oitenta anos, foi direto ao assunto: "Meu filho,eu não tenho gado para vender. Algumas reses que existem em um terreno nosso são das minhas filhas e sobrinhos. Não tenho o que negociar". O visitante  insistiu: "Padre, eu tenho um bom dinheiro para lhe oferecer. Um valor acima de qualquer preço na região. Vamos fechar o negócio". O vigário, já querendo se impacientar, convidou-o para irem à sua casa, ao lado da igreja, a fim de conversarem com a irmã do religioso.
- Irmã, trouxe aqui um senhor interessado na compra do gado. Tem interesse em vender o rebanho?". Perguntou o cura.
- Nunca pensei nisso, José. Não tenho necessidade de vender o gado.
Mas o negociante, com olhar incisivo e desejos pérfidos, insistiu com veemência: "Eu vim aqui para fazer um negócio que ninguém faz. Andei hoje o dia inteiro e não vou perder a viagem. Sei que o rebanho de vocês é pequeno, cerca de cem cabeças e ofereço vinte e cinco mil dólares pelo gado. Concordam?"
O sacerdote olhou para a irmã quase convencido de realizar a transação comercial. A irmã hesitou, balançou a cabeça se negando a conversar.
Com olhar ofuscante, cara a cara com o casal, o sujeito foi mais além: "Aceitem a proposta. Vou aumentar o valor, de vinte e cinco para trinta e cinco mil dólares. É dinheiro suficiente para vocês comprarem outro rebanho e ainda realizar as obras da igreja. Então, estamos certos?" Interrogou.
Diante de tanto vai e vem, com tanto dinheiro à vista, o velho cura e a irmã concordaram em concretizar a venda. O viajante, sem demora, depositou a bolsa de couro, cheia de dinheiro na mesa com o montante de trinta e cinco mil dólares. "Era um dinheirão", murmurou padre José, enquanto o viajante contou pacote por pacote até chegar aos 35 mil dólares. A  irmã do sacerdote juntou toda  grana, enrolou num saco de papel e guardou no quarto de dormir. O novo dono do rebanho se despediu, prometendo que ao amanhecer partiria com as reses estrada afora. E assim desapareceu.
No dia seguinte, lá para as tantas da tarde, o padre entusiasmado, cheio de projetos na cabeça, pegou o saco de dinheiro para recontar e aí teve um susto inusitado que quase o derruba da cadeira: as notas de dólares eram falsas. Apenas a primeira nota de cada pacote, de um dólar, era legítima. O resto era todo papel, sem valor algum. Foi um grande choque para jamais ser esquecido por aquele casal.
Então, o caso ficou conhecido como o Conto do Vigário*!
                                  

Autor desconhecido

*Esta é uma das versões para o conhecido "Conto do Vigário".

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